sábado, 10 de novembro de 2007

Alhures, algures, nenhures...

Alhures é irmã de algures. São duas velhinhas, quase aposentadas, talvez pela necessidade de dar explicações. "Vou alhures", "estava algures" parecem não dizer o suficiente e a pergunta é quase inevitável: "onde?"
Deve ser por economia que acabamos dizendo logo o onde, tirando a oportunidade de alongar o diálogo (por que não dar a deixa para uma pergunta a mais?) e desusando estas palavras, bonitas como nomes de mulher.
Nenhures, o irmão rebelde, também vai no mesmo caminho. Desusado, creio, devido à má-fama de frases do tipo "estava nenhures".
Algur, o irmão mais velho e o primeiro a se aposentar não é visto há tempos. Tanto tempo sem notícias e a família aos poucos se extinguindo...

Ah... quantas vítimas faz a indiscrição!

Proponho uma campanha para que políticos de todos os lados (de cima, de baixo, de fora, de dentro, etc) adotem estas palavras em seus discursos vagos e eloqüentemente vazios de conteúdo informativo e/ou criticável. Estão velhas, é verdade, mas com algum lustro, podem ainda servir muito a quem cuidar bem delas. São fiéis, amigáveis e trazem anos de tradição!
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quinta-feira, 1 de novembro de 2007

Biografia ilustre a caminho?


Eu não resisto! A piada já veio pronta e confesso que ia deixar passar, mas não dá!
Vejamos:

Do Terra: Belo quer Wagner Moura em filme sobre sua vida

"Belo* resolveu que quer fazer um filme sobre sua vida. Segundo a coluna Olá! do jornal Agora, o cantor gostaria que Wagner Moura o interpretasse."

Como se não bastasse:

"Ainda de acordo com a publicação, a dançarina Gracyanne Barbosa, noiva de Belo, gostaria que Camila Pitanga ou Alessandra Negrini para representá-la na telona. (SIC)"

Imagino Hollywood em polvorosa, Brad Pitt e Angelina Jolie fazendo protestos e ameaçando nunca mais fazerem filmes, se não forem convidados para estes papéis.

O mais curioso é que ninguém falou quem faria o papel da Viviane Araújo**. Será que Angelina Jolie ficaria em dúvida entre os dois papéis?

Depois dizem que este mundo é sério...
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* De acordo com a Wikipedia: "Belo, nome artístico de Marcelo Pires Vieira, um cantor brasileiro de pagode, ex-integrante do grupo Soweto e notório por seu envolvimento com o tráfico de drogas."
** Para quem não se lembra, a ex-esposa do rapaz
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sexta-feira, 21 de setembro de 2007

E o mistério...

No post anterior, eu falava que a aventura do lavrador Angelo de Jesus, que tentou "invadir" o Palácio do Planalto.

Parece que ele tinha mesmo uma mensagem a levar ao presidente. Pelo menos uma mensagem, à qual a mídia teve acesso:

http://www.estadao.com.br/nacional/not_nac55416,0.htm

O Sr. Angelo é portador de hanseníase, uma doença terrível e um problema seríssimo de saúde pública. Segundo relatos da mídia, ele trazia consigo uma imagem de São Lázaro, que sofreu da mesma doença e foi ressuscitado por Jesus (segundo o Evangelho de São João). Naturalmente, a imagem do santo representa uma esperança de cura do mal que o aflige, talvez de milagre. Mas há servir também para mostrar que o que é doente pode se curar, que as doenças têm tratamento e que infecções podem ser debeladas. Atualmente há tratamento para a hanseníase.

Eis aí uma mensagem nem tão cifrada, que nosso Presidente poderia entender... Há a esperança de ressurreição. Mesmo um governo pode se livrar daquilo que não condiz com a idéia original. e, de alguma forma, renascer. Nada mais oportuno...

É isso aí, Sr. Angelo! Todos nós esperamos que sua mensagem chegue ao Presidente e que ele tome as devidas... ações. (Eu ia escrevendo "providências", mas diante deste post do JacaBang, achei mais razoável usar outra expressão.)

É isso, eu acho...

quinta-feira, 20 de setembro de 2007

"Presidente, socorre eu!"

Taí uma coisa que ninguém imaginaria no governo FHC. Um lavrador de uma cidade chamada Pindobaçu, na Bahia, foi até o Palácio do planalto para falar com o presidente Lula. Será que ele "queria era falar com o presidente pra ajudar toda esta gente que só faz sofrer?". Não é possível saber. O fato é que o cidadão foi detido por tentar "invadir o palácio", algemado e levado em uma ambulância do corpo de bombeiros. Diz a lenda que, ao ser detido, imobilizado, etc., pela segurança do Planalto, ele gritava: "Presidente, socorre eu!" (veja aqui.).

Posso estar enganado, mas acho que isto só poderia acontecer no governo de um ex-operário. Porque é com um presidente assim que um homem humilde se sente à vontade para ir "conversar". Independente dos méritos deste governo (ou da ausência deles, para alguns), o fato de ser um homem de origem pobre na presidência, talvez permita a cada homem pobre deste país sentir-se "um pouco presidente" também. Sempre restará a estas pessoas a esperança, talvez a fé, de que lula nunca traiu suas raízes e que fez "o que deixaram" porque "presidente também depende dos outros" e "senão, matavam ele". Apenas em um governo de origem popular estas coisas podem acontecer. Ou, no mínimo, em um governo cujo presidente tem imagem de homem do povo.

Imagino no governo FHC, alguém dizendo "Presidente, socorre eu!" e ganhando, além das algemas, um manual de bom uso da norma culta do idioma pátrio... Não, ninguém se atreveria.

A notícia tem alguns elementos quase míticos. O nosso personagem (viram como é fácil apropriar-se?) tem o nome singelo de Angelo de Jesus. Isso por si só já daria uma história fabulosa sobre uma boa nova (?) para o Presidente (e para o povo?). Talvez a conexão à internet do céu seja através de alguma empresa espanhola de telefonia e fique mais fácil mandar um mensageiro entregar a notícia pessoalmente. Ou talvez o Pai-Nosso, em sua sabedoria, não confie em sistemas de criptografia da rede. A onisciência deve ser uma fonte inesgotável de paranóia...

Seja como for, o Sr. Angelo de Jesus veio de um local chamado "Serra das Esmeraldas". Um anjo vindo da Serra das Esmeraldas? Difícil imaginar coisa mais significativa. Alguém que VOLTA do sonho dos bandeirantes de encontrar a riqueza de nossa terra (e apoderar-se dela toda, levando-a embora para Portugal) para falar com o presidente não é coisa que apareça todos os dias. No mínimo, é uma combinação de nomes muito poética: "Angelo de Jesus, vindo da Serra das Esmeraldas". Na voz do Cid Moreira, ficaria ótimo.

Há também elementos de conto de fadas. Um homem do povo procura o Rei (no caso, o Presidente, é preciso adequar as cosias) com uma mensagem importante, sobre uma praga iminente, ou uma traição. Ou talvez traga uma lembrança, um anel, ou uma carta, que o presidente deixou para trás, em suas origens humildes. No passado, o próprio presidente, antes de ser presidente, teria incumbido este senhor de trazer esta mensagem. Talvez a salvação de todo reino, perdão! de todo o país, dependa do que este homem tiver a dizer ao mandatário. A frase "Presidente, socorre eu!" mostra uma confiança enorme no presidente, talvez até intimidade. Quase faz pensar que eles se conhecem. Mistério, mistério...

Como cresci durante a ditadura, sempre permanece uma dúvida, talvez um pouco paranóica. Será que ele foi levado por uma ambulância porque não quiseram usar um camburão para levar um cidadão que agiu com ingenuidade, mas tentando exercer sua cidadania dentro da civilidade? Porque estava doente? Passou mal? Ou será que ele "se machucou" no processo de ser imobilizado, detido, etc. Tenho esperança que seja pela primeira opção, ou que não seja pela última. De qualquer forma, ser "escorraçado pelos guardas do palácio" não é novidade nenhuma. Seja por puro preconceito, ou por trazer uma mensagem que talvez algum cardeal preferisse que o rei (perdão!) não recebesse. Estas coisas fazem parte das agruras de todo herói romântico.

Tenhamos fé. Nos romances, assim como nos contos de fadas , as coisas costumam acabar bem.

Notícia mais recente (veja aqui) informa que o presidente enviou um médico de seus quadros para acompanhar o lavrador. Além disso, "outra pessoa do seu gabinete pessoal" deve prestar a assessoria necessária, no hospital ou em outro local. Humm... Um emissário encontra o mensageiro "no hospital ou em outro local". Que outro local? O sapo barbudo, nós já conhecemos, mas cadê a princesa? E a bruxa? E a cigana? O mistério permanece...

Contudo, podemos dormir tranqüilos. Parece que a mensagem, enfim, será entregue.

quarta-feira, 5 de setembro de 2007

Divagações antigas - Japão e Inglaterra

Há muitos anos, num destes momentos de divagação intensa, tive um pensamento um pouco estranho. Comecei a pensar em como a Inglaterra e o Japão se parecem. Tudo bem, são países insulares e pessoas que nascem e crescem em ilhas podem ter algumas coisas em comum. Mas a coisa foi um pouco além disso. Tudo bem, não muito além...

Pode-se atribuir em parte à insularidade as tendências imperialistas dos dois países, talvez mais aparentes (não saberia dizer se mais acentuadas) do que os outros países. Uma pergunta interessante para geógrafos e historiadores, talvez.

Ilhas são, por definição, territórios claramente delimitados. Quem vive em ilhas talvez passe a vida sendo confrontado com a borda de seu mundo. Ao mesmo tempo, quanto menor a ilha, menor a área agriculturável e mais rapidamente esgotáveis os recursos para sustentar a população, o que traz, de novo, o senso de limite.

Enfim, o Japão e a Inglaterra são monarquias orgulhosas e cheias de lendas, algumas históricas, algumas inverossímeis. Duas monarquias onde floresceu a cavalaria andante e onde esta ainda serve de modelo de conduta, pelo menos no imaginário idealizador de quem não mora em nenhum dos dois lugares. Também são dois lugares onde a "fleuma" e o autocontrole são valorizados e dão status a quem os exerce, em especial se estiver em uma posição superior ou de comando. Quem assitiu "A ponte do Rio Kwai" percebe que o Coronel Nicholson (Alec Guinness) e o Coronel Saito (Sessue Hayakawa) são apenas lados diferentes de uma mesma moeda. São, na verdade, personagens tão parecidos que não é difícil imaginar um na situação do outro.

Japão e Iglaterra têm sociedades divididas em classes muito bem definidas, com relativamente pouco fluxo entre elas. Ambos os parecem ter no respeito à hierarquia social um valor importante. Naturalmente, em lugares assim, as pessoas devem poder estar contentes com sua posição social e ter orgulho de suas profissões e de seu papel na sociedade. Em especial as pessoas de classes menos ricas e em ocupações consideradas mais humildes podem ter uma certa atitude que, para nós, do "novo mundo" poderia parecer conformista. Não tenho como saber se isto é causa ou consequência da organização social mais rígida (ou as duas coisas), mas certamente contribui para a manutenção desta estrutura. (Vide post anterior)

Quanto à culinária, fala-se muito mal dos cozinheiros ingleses e os japoneses comem muitas coisas cruas, talvez para evitar que os cozinheiros as estraguem antes de servi-las. Mas não posso dizer que este seja um ponto em comum, até porque desconheço alegremente a culinária inglesa e gosto muito da comida japonesa.

O senso de humor, ou a falta dele (do senso, não do humor), é uma característica cultural muito importante, que cria uma certa identificação entre pessoas de uma mesma cultura. Tente contar piadas para estrangeiros e você vai entender do que estou falando. Não conheço o suficiente do senso de humor japonês para falar a respeiito. Mas, diz a lenda que um inglês conta uma piada para ele mesmo rir, fato já constatado por este que escreve estas maltraçadas. No caso dos comediantes ingleses (um oxímoro, aceito por motivos diplomáticos) o riso do público seria um efeito colateral, ou, como diria o povo de Campinas: "um plus a mais".

Não sei se, de fato, procede a comparação entre os dois países e em quanto esta é influenciada pelos estereótipos dos dois povos. Também pode ser resultado da leitura de mais de um livro do James Clavell...

O mínimo

Imagine um país onde se pode sustentar a família de forma digna e confortável, criar os filhos e até mesmo arcar com despesas médicas eventuais (seja porque são atribuição do Estado ou porque são acessíveis). Em um lugar assim, a necessidade de buscar "sempre mais" fica bastante diminuida. Naturalmente, isso é mais que justo. A maioria dos países desenvolvidos, na Europa, são assim (ou passam, de modo muito forte) este impressão. A Inglaterra e o Japão também, para adiantar um pouco o próximo post.

Acho lastimável que, no Brasil, tanta gente vá fazer faculdade (ou, na pior expressão possível, "tirar diploma") porque sem diploma "não vai ser ninguém", etc. Estudar além de um determinado ponto (digamos, além de um bom curso técnico) deveria estar mais relacionado com a paixão de aprender ou a vontade de trabalhar em uma profissão que exija curso superior, não deveria ser uma questão de sobrevivência.

No nosso caso brasileiro, pode-se dizer, no mínimo, que nossa sociedade não facilita muito a vida de quem faz trabalho técnico e/ou braçal. Há exceções e alguns trabalhadores de empresas grandes, a maioria multinacionais, que trazem uma cultura de respeito (mínimo) aos "peões", já que sabem que dependem mais de "quem faz" do que de "quem manda fazer". A lógica é razoavelmente simples: "Se todos forem engenheiros, quem vai, de fato, misturar a massa e construir as casas?"

Não quero aqui entrar em discussões sobre "luta de classes", "mais-valia", "conflito entre capital e trabalho". Há limites até mesmo para se falar sobre o que não se sabe. Contudo, o resrpeito mínimo ao trabalhador não depende necessariamente da posição do país ou da empresa no espectro ideológico "direita-esquerda". Alguns países capitalistas (e MUITO capitalistas) oferecem condições bastante dignas às chamadas "classes trabalhadoras". Por outro lado, há grandes empresas que já foram acusadas de usar mão de obra escrava. Ao mesmo tempo, há exemplos históricos de países autodenomindos socialistas onde os trabalhadores não tinham condições dignas nem de trabalho nem de vida (para dizer o mínimo).

Em uma sociedade onde o trabalhador mais humilde pode levar uma vida digna e razoavelmente confortável, a necessidade de ascenção social nao está relacionada à sobrevivência ou a garantia de um mínimo de dignidade e conforto.

Longe de pregar o conformismo, não seria lindo se, no mundo todo, as pessoas tivessem garantidas as condições de viver com dignidade, e se a educação universitária fosse uma questão de vocação, não de necessidade?

segunda-feira, 20 de agosto de 2007

MAIS OU MENOS VEGETARIANA

Há uma piadinha velha e bem infame sobre o vegetariano que leva uma mulher para trás da moite e... come a moita.

Bom, parece que o dilema do vegetariano (a mulher ou a moita? a moita ou a mulher?) será finalmente solucionado. Notícia da Folha Online de hoje:

Mulher-Samambaia vai abrir restaurante vegetariano
(http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u321302.shtml)

A fêmea humano-pteridófita revela algumas tendências, digamos, quase canibais (será um caso inédito de canibalismo vegetal). Afinal, segundo a reportagem:

"A quem interessar possa, a Mulher-Samambaia revela sua preferência à mesa: gosta de comer folhas. 'Sou mais ou menos vegetariana. Também como frango de vez em quando.'"

Mais ou menos vegetariana? Alguém já ouviu falar de alguma planta mais ou menos carnívora?

Gosta de comer FOLHAS?? ...online?
(Um dia ainda vou tentar uma dieta à base de alimentos virtuais.)

Agora, falando sério. À pergunta, inevitável, sobre se pretendia se tornar atriz-cantora-apresentadora, a resposta da moça foi simples:

"Não, sou muito tímida. Quero ficar no 'Pânico'."

É um alívio ver alguém que, apesar da beleza inquestionável e depois de posar para uma revista masculina, não ambiciona ser apresentadora de programa infantil, cantora, atriz, ou seguir a carreira de "famosa" (carreira "artística" nova e em ascenção, após bigbrothers e afins). Acho que uma moça bonita que faz sucesso na televisão e não acha que "é artista" deveria ser um exemplo para todas os meninos e meninas bonitas que sonham em ser modelos ou em participar de qualquer destes programas do tipo "reality show" (diga-se de passgem, muito mais "show" que "reality"). É preciso que se compreenda que modelo não é artista, é modelo. O fato de alguns modelos se tornarem atores e atrizes deve ser encarado como uma exceção, não como a regra. Quem lembra da novela "Explode Coração" da Globo (aqui, alguns dados sobre os bastidores), há de lembrar do Ricardo Macchi, um exemplo de que, mesmo com a maior boa-vontade, a transição não é automática.

Aderindo à máxima "em time que está ganhando não se mexe", a insigne pteridófita humana demonstra grande senso de estratégia e uma sensibilidade admirável. Nossos ouvidos e senso estético agradecem!