quarta-feira, 5 de setembro de 2007

O mínimo

Imagine um país onde se pode sustentar a família de forma digna e confortável, criar os filhos e até mesmo arcar com despesas médicas eventuais (seja porque são atribuição do Estado ou porque são acessíveis). Em um lugar assim, a necessidade de buscar "sempre mais" fica bastante diminuida. Naturalmente, isso é mais que justo. A maioria dos países desenvolvidos, na Europa, são assim (ou passam, de modo muito forte) este impressão. A Inglaterra e o Japão também, para adiantar um pouco o próximo post.

Acho lastimável que, no Brasil, tanta gente vá fazer faculdade (ou, na pior expressão possível, "tirar diploma") porque sem diploma "não vai ser ninguém", etc. Estudar além de um determinado ponto (digamos, além de um bom curso técnico) deveria estar mais relacionado com a paixão de aprender ou a vontade de trabalhar em uma profissão que exija curso superior, não deveria ser uma questão de sobrevivência.

No nosso caso brasileiro, pode-se dizer, no mínimo, que nossa sociedade não facilita muito a vida de quem faz trabalho técnico e/ou braçal. Há exceções e alguns trabalhadores de empresas grandes, a maioria multinacionais, que trazem uma cultura de respeito (mínimo) aos "peões", já que sabem que dependem mais de "quem faz" do que de "quem manda fazer". A lógica é razoavelmente simples: "Se todos forem engenheiros, quem vai, de fato, misturar a massa e construir as casas?"

Não quero aqui entrar em discussões sobre "luta de classes", "mais-valia", "conflito entre capital e trabalho". Há limites até mesmo para se falar sobre o que não se sabe. Contudo, o resrpeito mínimo ao trabalhador não depende necessariamente da posição do país ou da empresa no espectro ideológico "direita-esquerda". Alguns países capitalistas (e MUITO capitalistas) oferecem condições bastante dignas às chamadas "classes trabalhadoras". Por outro lado, há grandes empresas que já foram acusadas de usar mão de obra escrava. Ao mesmo tempo, há exemplos históricos de países autodenomindos socialistas onde os trabalhadores não tinham condições dignas nem de trabalho nem de vida (para dizer o mínimo).

Em uma sociedade onde o trabalhador mais humilde pode levar uma vida digna e razoavelmente confortável, a necessidade de ascenção social nao está relacionada à sobrevivência ou a garantia de um mínimo de dignidade e conforto.

Longe de pregar o conformismo, não seria lindo se, no mundo todo, as pessoas tivessem garantidas as condições de viver com dignidade, e se a educação universitária fosse uma questão de vocação, não de necessidade?

Nenhum comentário: