Taí uma coisa que ninguém imaginaria no governo FHC. Um lavrador de uma cidade chamada Pindobaçu, na Bahia, foi até o Palácio do planalto para falar com o presidente Lula. Será que ele "queria era falar com o presidente pra ajudar toda esta gente que só faz sofrer?". Não é possível saber. O fato é que o cidadão foi detido por tentar "invadir o palácio", algemado e levado em uma ambulância do corpo de bombeiros. Diz a lenda que, ao ser detido, imobilizado, etc., pela segurança do Planalto, ele gritava: "Presidente, socorre eu!" (veja aqui.).
Posso estar enganado, mas acho que isto só poderia acontecer no governo de um ex-operário. Porque é com um presidente assim que um homem humilde se sente à vontade para ir "conversar". Independente dos méritos deste governo (ou da ausência deles, para alguns), o fato de ser um homem de origem pobre na presidência, talvez permita a cada homem pobre deste país sentir-se "um pouco presidente" também. Sempre restará a estas pessoas a esperança, talvez a fé, de que lula nunca traiu suas raízes e que fez "o que deixaram" porque "presidente também depende dos outros" e "senão, matavam ele". Apenas em um governo de origem popular estas coisas podem acontecer. Ou, no mínimo, em um governo cujo presidente tem imagem de homem do povo.
Imagino no governo FHC, alguém dizendo "Presidente, socorre eu!" e ganhando, além das algemas, um manual de bom uso da norma culta do idioma pátrio... Não, ninguém se atreveria.
A notícia tem alguns elementos quase míticos. O nosso personagem (viram como é fácil apropriar-se?) tem o nome singelo de Angelo de Jesus. Isso por si só já daria uma história fabulosa sobre uma boa nova (?) para o Presidente (e para o povo?). Talvez a conexão à internet do céu seja através de alguma empresa espanhola de telefonia e fique mais fácil mandar um mensageiro entregar a notícia pessoalmente. Ou talvez o Pai-Nosso, em sua sabedoria, não confie em sistemas de criptografia da rede. A onisciência deve ser uma fonte inesgotável de paranóia...
Seja como for, o Sr. Angelo de Jesus veio de um local chamado "Serra das Esmeraldas". Um anjo vindo da Serra das Esmeraldas? Difícil imaginar coisa mais significativa. Alguém que VOLTA do sonho dos bandeirantes de encontrar a riqueza de nossa terra (e apoderar-se dela toda, levando-a embora para Portugal) para falar com o presidente não é coisa que apareça todos os dias. No mínimo, é uma combinação de nomes muito poética: "Angelo de Jesus, vindo da Serra das Esmeraldas". Na voz do Cid Moreira, ficaria ótimo.
Há também elementos de conto de fadas. Um homem do povo procura o Rei (no caso, o Presidente, é preciso adequar as cosias) com uma mensagem importante, sobre uma praga iminente, ou uma traição. Ou talvez traga uma lembrança, um anel, ou uma carta, que o presidente deixou para trás, em suas origens humildes. No passado, o próprio presidente, antes de ser presidente, teria incumbido este senhor de trazer esta mensagem. Talvez a salvação de todo reino, perdão! de todo o país, dependa do que este homem tiver a dizer ao mandatário. A frase "Presidente, socorre eu!" mostra uma confiança enorme no presidente, talvez até intimidade. Quase faz pensar que eles se conhecem. Mistério, mistério...
Como cresci durante a ditadura, sempre permanece uma dúvida, talvez um pouco paranóica. Será que ele foi levado por uma ambulância porque não quiseram usar um camburão para levar um cidadão que agiu com ingenuidade, mas tentando exercer sua cidadania dentro da civilidade? Porque estava doente? Passou mal? Ou será que ele "se machucou" no processo de ser imobilizado, detido, etc. Tenho esperança que seja pela primeira opção, ou que não seja pela última. De qualquer forma, ser "escorraçado pelos guardas do palácio" não é novidade nenhuma. Seja por puro preconceito, ou por trazer uma mensagem que talvez algum cardeal preferisse que o rei (perdão!) não recebesse. Estas coisas fazem parte das agruras de todo herói romântico.
Tenhamos fé. Nos romances, assim como nos contos de fadas , as coisas costumam acabar bem.
Notícia mais recente (veja aqui) informa que o presidente enviou um médico de seus quadros para acompanhar o lavrador. Além disso, "outra pessoa do seu gabinete pessoal" deve prestar a assessoria necessária, no hospital ou em outro local. Humm... Um emissário encontra o mensageiro "no hospital ou em outro local". Que outro local? O sapo barbudo, nós já conhecemos, mas cadê a princesa? E a bruxa? E a cigana? O mistério permanece...
Contudo, podemos dormir tranqüilos. Parece que a mensagem, enfim, será entregue.